Minha jornada madrugal e acariense pela edição eletrônica da Folha de S. Paulo amarra o burro no editorial do jornal paulista. Comenta o avanço da classe média sobre a pobreza no Brasil, comemora isso, também faz ponderações. Leitura muito recomendada. E, entre as ponderações, uma especial, que esse giro de férias está deixando muito claro para este observador do Sopão: se há atualmente no Brasil uma melhora no combate à desigualdade de renda, não há uma melhora equivalente na luta contra a desigualdade social.
O editorial explica e distingue: o aumento da renda está fazendo crescer esta nova classe média, mas essa mesma nova classe média, embora com mais dinheiro no bolso, sofre os efeitos de longuíssimo prazo de ter recebido uma educação desqualificada, uma segurança precária e serviços urbanos incapazes de atender suas necessidades. Vou ficar no primeiro item: a precarização do ensino público que se deu ao longo de décadas no país compromete seriamente a formação do brasileiro médio. Estou falando de educação formal mesmo, pra dizer o mínimo.
A onda de música de péssima qualidade, o culto à vulgaridade mais bárbara, a aversão a qualquer forma de elevação intelectual - tudo isso está muito presente nos mesmos lares que, com toda justiça do mundo e anos de atraso, vivem hoje melhor financeiramente do que há dez, vinte, trinta anos. É o preço que se paga hoje pelo abandono da escola desde os anos 70, num processo que passa pela empáfia tecnocrática dos militares, atravessa a irreponsabilidade burguesa dos anos Sarney-Collor e permanece na estagnação anti-qualquer-coisa-que-signifique-Estado-e-planejamento da era Fernando Henrique Cardoso. Você não vai esperar que o governo Lula, coitado, dê conta de mudar isso, vai?
E, como estamos em período de campanha eleitoral pelas prefeituras, atenção: a redistribuição de renda é, por princípio, uma iniciativa de governos federais, mas a missão de resolver outros níveis de desajustes sociais, como a educação precária, a urbanidade desrespeitada, a segurança corrompida e por aí afora, cabe aos executivos estaduais e municipais.
Um comentário:
ah, não, Tião, essa não. o governo Lula tinha que ter ataca isso sim, claro, educação básica e fundamental ficaram além da prosperidade do consumo. bom, mas isso é outra história...
Postar um comentário