quarta-feira, 7 de maio de 2008

Um cerro no sertão


Uma reportagem no UOL-Turismo sobre as três casas do poeta Pablo Neruda, transformadas em museus em três pontos distintos do Chile - Santiago, Valparaíso e Isla Negra - me proporcionou uma inesperada conexão com uma pequena cidade potiguar. E uma conexão bem apropriada a esta temporada de início de inverno. Acontece que uma das casas, a da capital Santiago, conhecida como La Chascona - ou "a descabelada" em língua indígena quíchua - fica aos pés do cerro San Cristóbal. Pois bastou ler a designação espanhola para o que chamamos, em bom português, de morro, que a conexão se estabeleceu.

A cidade é Cerro Corá, situada entre Currais Novos e Santa Cruz. Um lugar que, plantado no alto de um conjunto de montanhas, ganha uma atmosfera - e aqui a palavra tanto vale no sentido figurado quanto no literal - diferente quando chega o meio do ano. Fiquei me perguntando por que uma cidade situada no sertão potiguar ganhou este nome espanholado de "Cerro" - e me perguntando também de onde virá esse igualmente exótico "Corá" que o completa. Claro que o fato de situar-se numa cadeia montanhosa explica o uso do termo geográfico. Mas por que em espanhol e não em português? Não sei a resposta e nem vou cutucar no Google para descobrir. Há certas situações em que é melhor manter o mistério, especialmente quanto este é um poderoso elemento de poesia. E, vai ver, foi por isso mesmo - pelo fato de este "Cerro" transmigrado de além dos Andes soar muito mais sugestivo para quem deu nome à cidade.

Garoto, passei uns dias em Cerro Corá durante o inverno mais pesado. Quando se chega a Lagoa Nova, cidade já um tanto elevada mas ainda menos que Cerro Corá, o sertanejo acostumado ao calor já começa a perceber uma grande diferença climática. Mas quando enfim você termina de serpentear por serrados e vê-se em Cerro Corá, o panorama é outro. Você fala - ou apenas respira - e produz aquela fumacinha invernal que nós, nordestinos amatutados, só conhecemos de filme. É de manhã ou meio-dia e você está na ampla e agradável praça principal metido num pesado casaco, numa elegância inusual que faria morrer de rir um habitante da Acari ali embaixo. Você assiste a noites belíssimas de tão estreladas, refrigeradas e entrecortadas por sons de festas. O São João local, como não poderia deixar de ser, tem um gostinho a mais que pede calor para aquecer o som das sanfonas tocando a mil no mercado municipal. O casario também tem um quê de virada do século - uma coisa meio Campina Grande, outro burgo sertanejo bafejado pelo frio ocasional.

Lendo a reportagem do UOL sobre as casas de Neruda lá longe, no Chile, vendo a bela galeria de fotos que também está no portal, deu uma vontade danada de correr para uma agência de viagens e comprar um pacote para a pátria do poeta. Como isso não é possível, vou me conformando por aqui lembrando que em julho vamos a Natal de férias. Uma vez em território potiguar, bateremos o ponto tradicional em Acari - e poderemos muito bem programar uma escapada poética até Cerro Corá. Só para respirar um pouco da friagem da mesma Latinoamérica que nos une a Neruda, conterrâneo de continente.

2 comentários:

Anônimo disse...

Tião!!!
Quanto tempo!
Vi o seu blog agora e bateu uma saudade, de vc e Rejane. Renaje continua a mesma, mas vc não é mais aquele franzino de cabelo preto!!!
Que coisa boa relembrar os bons tempos da Cabugi.
Seus filhos são muito lindinhos, parabéns.
Um beijo,

Eliana Lima - Xuxu, lembra?
Xuxu com x pq com ch lembra aquele legume ruinzinho, né?

Depois de passar pela Poti, Tropical (pós Cabugi), RN Econômico, Dois Pontos, 94FM, Jornal de Hoje, hoje estou na Tribuna do Norte, onde espero me aposentar.

Anônimo disse...

Cerro Corá é uma cidade linda e encantadora. Todos deviam conhcer esse pedaço do céu...