Celebrei nossa brava república numa jornada audio-visual do tipo que só acaba quando enjoa. Pra começar, por acaso quando ligo a tevê está passando no Telecine Cult o que eu imaginava ser apenas uma pequena curiosidade (ledo engano): a primeira versão de "Cape Fear", produção dos anos 50 que seria refilmada por Martin Scorsese em 91.
O que eu não imaginava é que o "Cabo do medo" original tem um vilão ainda mais assustador que o Robert de Niro malhado e tatuado da versão de Scorsese. É Robert Mitchum, apavorante como o ex-presidiário que volta para sacanear o homem que testemunhou contra ele e o mandou para oito anos de prisão. E olhe que Mitchum espalha pavor sem precisar de tatuagem nenhuma - e ainda tendo que estufar o peito para parecer mais forte do que barrigudo, coitado. Mesmo assim, é de fazer De Niro arrepiar os cabelos de medo. E sem fazer cara feia. Basta exalar um negócio chamado maldade, sem exageros. Mitchum é apavorante e pronto. Perto dele, Gregory Peck, seu saco de pancadas, parece uma mocinha indefesa.
Scorcese foi mais incisivo em algumas coisas, mas ainda assim a versão original espanta pelo clima de tensão e violência sexual que transmite, especialmente se a gente lembrar que é um produto da década de 50 - e que, no final das contas, esse é apenas um "filme de gênero", categoria suspense. Ao retomar a idéia, o que Scorcese fez foi "dar um grau" na personagem da garota adolescente, filha de Peck - o que não deve ter sido um trabalho pesado, já que ele escolheu para o papel ninguém menos do que Jiuliette Lewis, a menina incendiária que todo mundo adora. E para fazer frente ao bom mocismo inútil de Gregory Peck, escalou Nick Nolte para o mesmo papel, fazendo dele um sujeito no limite da covardia. Casado com quem? Ela mesma, Jessica Lange.
Pense bem: coitado de Nick Nolte. Não dava mesmo para ele dar conta dessas duas mulheres - Lange e Lewis - sob o assédio pra lá de criminoso de Robert Mitchum, no caso de uma possível junção dos dois filmes. Para a sorte de Nick Nolte, o vilão da nova versão era De Niro, gente boa pra caramba.
E foi isso o feriado: depois vieram dois DVDs meio caça-níqueis de Tom Jobim (feitos na esteira do sucesso daquela série de Chico Buarque) e outra boa supresa. Um DVD com o show "Tambores de Minas", espetáculo musical que Milton Nascimento fez logo depois de lançar o CD "Nascimento", aí por 1995. Milton havia estado entre a vida e a morte e o disco celebrava sua recuperação por meio do toque dos tambores de sua terra.
Não imaginava que o show fosse tão bom: o tratamento teatral que Gabriel Vilela deu ao espetáculo faz dele um pequeno marco na história desse moço já tão pontuado por referências quando se trata da música brasileira.
O mais foram uns repetecos musicais dos anos 80 - porque o verão está chegando e esse ventos cíclicos trazem saudades fiéis, sempre. Espero que vocês também tenha tido um proveitoso dia da república.
Um comentário:
Meu caro: Não me lembro de ter visto o filme de J. Lee Thompson nos cinemas de Natal, e não o vi agora. Mas o seu texto me deixou bastante curioso. Aliás, Robert Mitchum era um dos meus atores favoritos nos anos 50/60. Um abraço.
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