Estou submerso, quase afundando. O oceano em que flutuo a um passo do afogamento está repleto de letras sagradas, mas sempre há um ou outro vocábulo profano ao qual posso me agarrar. É um livro, sim. Esta abertura alfasensorial não passa de uma metáfora. O livro também o é. Mas ainda assim, vale a imagem: afogo-me, com prazer.
Estou lendo, e quando o faço quase não encontro espaço para respirar, um clássico de toda a vida que nunca havia visitado. É Moby Dick, o missal literário e existencial do senhor Herman Melville. A preleção quase religiosa que os literatos de prêmio e outros especialistas da espécie me dizem ser um marco, tanto pelas experimentações de formatos que contém (há capítulos em forma de script poético-teatral em meio à massa narrativa) quanto pelo volume semi-enciclopédico de informações sobre o vasto mundo da caça à baleia.
Estou, assim, embutido dentro dessa baleia literária imensa, como um outro Jonas - um pecador contumaz e teimoso, arrogante se deixando humilhar pela reza castiça e piedosa do padre Melville. Eventos caseiros, rotinas profissionais, trabalhos de Hércules em suaves prestações diárias me impedem de ir à frente no ritmo que gostaria. Nem por isso me considero menos envolvido pelas ondas desse mar gelado e pelos madeirames desse barco maldito.
Estou quase no meio do livro. Estou nadando, respirando pouco, engolindo água e tossindo imprecações. Pra falar a verdade, não sei exatamente se me encontro dentro dessa baleia centenária ou se eu é que a tenho entalada dentro de mim. Quando acabar a leitura, vomito minha água vã que, quem sabe, resolverá a questão e respingará em algum de vocês.
Estou lendo, e quando o faço quase não encontro espaço para respirar, um clássico de toda a vida que nunca havia visitado. É Moby Dick, o missal literário e existencial do senhor Herman Melville. A preleção quase religiosa que os literatos de prêmio e outros especialistas da espécie me dizem ser um marco, tanto pelas experimentações de formatos que contém (há capítulos em forma de script poético-teatral em meio à massa narrativa) quanto pelo volume semi-enciclopédico de informações sobre o vasto mundo da caça à baleia.
Estou, assim, embutido dentro dessa baleia literária imensa, como um outro Jonas - um pecador contumaz e teimoso, arrogante se deixando humilhar pela reza castiça e piedosa do padre Melville. Eventos caseiros, rotinas profissionais, trabalhos de Hércules em suaves prestações diárias me impedem de ir à frente no ritmo que gostaria. Nem por isso me considero menos envolvido pelas ondas desse mar gelado e pelos madeirames desse barco maldito.
Estou quase no meio do livro. Estou nadando, respirando pouco, engolindo água e tossindo imprecações. Pra falar a verdade, não sei exatamente se me encontro dentro dessa baleia centenária ou se eu é que a tenho entalada dentro de mim. Quando acabar a leitura, vomito minha água vã que, quem sabe, resolverá a questão e respingará em algum de vocês.
2 comentários:
Acredita que me deram esse livro pra ler quando eu era criança?...
Enquanto isso, a outra Moby Dick, a encalhada, vem declarar que foi você o único que entendeu a minha intenção de fechar o estaleiro. Reverencio a sua sensibilidade: obrigada! É uma honra saber de um leitor assim!
Sempre faço planos de leitura. E saboto boa parte deles. Vou atropelando os "para ler" com os "olha esse que saiu" e "putz! olha só isso!" e "caralho! achei!". Moby Dick estava nos planos desse ano e foi sendo deixado para depois. Mas ainda há mais de um mês pela frente antes de eu fazer a lista para 2008.
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