sexta-feira, 20 de junho de 2008

Minha viagem com Amy (1)

Quatro horas da tarde em ponto. Eu, como sempre, saio de casa na última hora, em dia com o meu atraso, rumo ao trabalho. Num jato visual, sobrevôo com pressa o entulho organizado de jornais, papéis, CDs, livros e revistas sobre o birô que nos serve de escritório na sala, pertinho da porta. Recolho um disco que você não vai encontrar em loja nenhuma. Coisa exclusiva, estilo "eu que fiz". Mais uma das dezenas de coletânas que me divirto fazendo a partir dos CDs que fui comprando ao longo do tempo e outras fontes mais. "Fritada Musical" é o nome do CD - tenho essa mania estranha de botar nomes neles, preparar uma capinha caprichada usando fotos ou ilustrações prontas no computador. Num interminável segundo, estou na garagem, e noutro, saindo da quadra, mais um pouco, mais outro e já estou serpenteado pela 316, logo ali abaixo, e mais outro tanto e pronto - aqui estou eu navegando célere na via L4, uma espécie de Via Costeira que, à guisa do mar, tem o Lago Paranoá como margem do caminho. É quando enfio no CD player do carro o disco que capturei apressado ao sair de casa.

Neste momento, dá-se algum fenônemo paramusical de efeito de alta duração e reverberação potencial super-extensiva. Tudo porque o carro, praticamente fechado, é envolvido em uma pastosa voz feminina, uma gutural cantiga de acento meio blues mas ao mesmo tempo despudoradamente pop, uma cantora daquelas que anula tudo em volta quando está exercendo seu ofício ou cumprindo seu papel neste mundo (às vezes, num momento de elevação humana, essas duas coisas coincidem). Um negócio meio Nina Simone e meio Janis Joplin, como uma Marisa Monte lubrificada pelas sarjetas ou um Tom Waits vincado por fisiologias e angústias femininas. Foi então que caiu a ficha: era ela. Amy Winehouse.

(CONTINUA NA PRÓXIMA POSTAGEM)

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