Era ela. Amy Winehouse entrou na vinha vida pelos olhos, antes de preencher docemente os meus ouvidos, com sua voz que mais parece uma língua rugosa massageando tecidos sensíveis. Foi numa manhã qualquer de uns meses atrás, quando eu lia, página por página - que é como faço, com essa obsessão de não pular nada, o que já é quase um toc robertocarliano - um exemplar da revista Rolling Stone. Na virada comum de uma página, ela surge toda tatuada, parecendo uma égua pop, com aquele cabelão setentista, aqueles lábios de sorvedouro e, sim, aquele cheirinho a esta altura até meio enjoado que mistura bafo de álcool com odor de marketing. Eu li aquilo como quem tira sarro de uma piada, impressionado com a capacidade de jornalistas cults em retocar uma imagem, reproduzindo pela enésima vez um procedimento que a gente já viu com tantos outros. Mas revistas não tocam - e eu fiquei sem ouvir e sem sentir a presença vocal daquela moça que me pareceu programadamente esquisita, de uma autodestrutividade tão estilosa quanto forçada. Amy Winehouse não me engana, pensei, ao fechar a revista. Mas fiquei com uma coisa na cabeça: quem ia gostar dessa moça é meu amigo Carlos de Souza. Ela é bem o tipo de persona musical de que ele gosta. Como dizem, passou.
Aí veio uma elipse até o que em que meu amigo Carlos de Souza, justo ele, anunciou que estava vindo passar um dia em Brasília. Vivas! Diversão pela frente! Algumas horas com um velho amigo, uns passeios pela cidade na companhia de uma pessoa que naturalmente dá uma cara nova aos lugares por onde a gente passa todo dia, promessas de novidades na inevitável troca de recomendações sobre livros e discos à mão cheia. E Carlão, logo no início da nossa ronda pelaí, cismou de me comprar um CD de... Amy Winehouse, o que serviu de desculpa pra gente bater pernas por um bom número de lojas de discos da cidade.
(CONTINUA)
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