sexta-feira, 7 de outubro de 2011

O grande sertão de Zé Bebelo



Estrategista das guerras de jagunços e clown dos grotões, José Dumont é personagem e ator injetando outra qualidade de sutileza na minissérie relançada em pacote de DVD

Depois de matar os 16 discos de “Roque Santeiro”, este blogue se perdeu com alforjes, trabucos e cartucheiras nos descampados pedregosos e quase intransponíveis do Liso do Sussuarão de “Grande Sertão: Veredas”, a série de TV que Walter Avancini dirigiu ali por meados dos anos 80 e que o império global, sabe-se lá por quais motivos, jamais reprisou. Com a chegada da era das caixas de DVD, é mais um problema resolvido: são 4 discos com todas as peripécias vivenciais e existenciais de Riobaldo “Tatarana”, Reinaldo “Diadorim”, Tarcísio “Hermógenes” Meira, Joca Ramiro e... Zé Bebelo.

Para além da mais do que conhecida agonia de Riobaldo se remoendo de desconfiança e de amores pela Diadorim que ele pensa ser apenas um Reinaldo, há a figura impagável daquele Zé Bebelo de que eu nem lembrava da exibição original da minissérie e muito menos do livro. Um livro tão pleno de literatura à flor da página que a gente até esquece de certos personagens, absorvido que estamos diante da prosa de João Guimarães.

Pois foi botar os DVDs pra rodar e dar de cara com aquele José Dumont incorporado hora em homem “do governo”, ora em refém dos jagunços, daqui a pouco feito jagunço ele mesmo e logo elevado à condição de chefe falastrão de um punhado de brutos jagunços. Um ator e um personagem, assim como Diadorim, no limite da desconfiança – embora aqui no terreno das guerras sertanejas e não das pelejas do sexo. Zé Dumont, escorregadio e gaiato, clown das artimanhas militares e pensador das coisas dos grotões, é Zé Bebelo e pronto. Como Gloria Pires foi Ana Terra e Lima Duarte foi Sinhozinho Malta. Mais um caso da mais completa fusão de ator e personagem.

Mais impagável do que Zé Bebelo no cavalo de Zé Dumont é Tony Ramos, no cavalo de Riobaldo, imitando o chefe, na cena que está no terceiro disco do pacote: riem os jagunços-atores em cena e rimos nós aqui fora. Nada como a metalinguagem quando bem empregada. Nada como o advento da caixa de DVD para trazer de volta esse diamante bruto da teledramaturgia brasileira.

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