Desde as 21h da última terça-feira e até o presente momento, num processo que em algum momento chegará à sua plenitude, o autor deste Sopão encontra-se em férias de dez dias. Digo que dá-se um processo em curso porque, ao contrário de muita gente, não me coloco, me sinto ou me reconheço em férias no exato momento em que acabo de dar minha última gota suada de trabalho no período regulamentar e anterior à validação jurídica do dito período. Pra mim, as férias vão chegando devagar - e aí já se imagina o problema quando se trata de férias curtas, como essas, de dez dias, dou-me o direito de repetir e reafirmar. Até a poeira elétrica e persistente do estresse da rotina profissional flutuar, preguiçosa, até a base do chão, é tempo, viu? De maneiras que é nesse intervalo em que estou: nem de férias nem batendo meu ponto (o que, no meu caso, não vão fazer pouco da minha condição de meio servidor público/ meio jornalista, significar trabalhar pesado).
Dá-se então, com a solenidade das próclises menos usuais, uma espécie de pico de estresse movido a puro deleite. Assim, ó: durante uns dois ou três dias logo que as férias oficiais se iniciam, ativa-se o vulcão interno da minha pessoa, este liquidificador embutido nas entranhas do corpo e da mente que não está nem aí para a urgente e necessária placidez a que deve corresponder qualquer descanso digno dessa palavra, e no lugar de me acalmar, acabo me danando, como diz aquele bolero de Angela Ro Rô. O início das férias, mesmo das férias de curtíssima duração, é esse pequeno inferno de querer fazer tudo, ver todos os filmes, ler todos os livros, assistir a todos os programas de televisão, tuitar com todos os amigos, blogar até acabarem os itens todos anotados na cadernetinha, ouvir todos aqueles CDs que relembram essa ou aquela fase do passado, além dos novos recém-comprados e cujos plásticos sequer foram abertos, ver tudo quanto é filme gravado no HD da televisão etc etc etc etc etc etc.
E ainda ter que administrar os filhos que, como os de William Bonner e Fátima Bernardes, estão de folga o resto da semana (cadê a ética das escolas? se fosse o Congresso já tava na porrada), além de dar conta de uma série de pequenas demandas que a gente adora deixar para fazer... nas férias! Cortar o cabelo, mandar lavar o carro, pagar aquela conta, mandar consertar aquele aparelho enguiçado etc etc etc etc etc. De maneira que esta postagem completamente inútil - tanto quanto costumam ser os meus primeiros dias de férias, mesmo que sejam férias breves como essas - é só pra dizer que, bem, a gente parece ter mesmo uma índole de trabalhador que demora pra se acostumar com a idéia de parar tudo por uns dias. Diante dessa situação, a gente entra em estado de alerta - quando deveria ingressar em situação de desleixo.
De terça à noite para cá, assisti a um filme no cinema - "Meu País", esse que fez certo sucesso no recém-encerrado Festival de Cinema de Brasília -, terminei de ler o "Solar da Fossa", a "biografia sentimental" de um prédio feita por Toninho Vaz (com certo desleixo mais recomendável a quem está de férias e não escrevendo um livro, devo dizer), levei as crianças ao clube da Câmara somente para suportar a barulheira de uma comemoração dispensável do Dia das Crianças (além da maior chuva, mas chuva aqui é sempre coisa boa), ganhei um bônus para piruetar por duas longas horas na livraria Fnac e adjacências, o que me permitiu ouvir um tantão de músicas e ao final comprar uns poucos CDs, dei umas caminhadas (ao longo das quais encontrei, aqui nas cercas e muros do Sudeste mesmo, esses belos paineis que ilustram a postagem) cortei o cabelo, mandei lavar o carro e li a introdução do livro de Miguel Nicolelis, o "Muito além do nosso eu" que, bênçãos e aleluias científicos, é de uma redação capturante se vocês me permitem usar um adjetivo menos usual.
E se mais nenhum outro desnecessário motivo houver, a postagem se jusfitifica pelo mero hábito sopalino de registrar em posts vagos como redação de isopor as férias do autor. Câmbio, desligo, prometendo voltar em brave com novidades vencidas sobre essas férias picotadas.
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