segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Perdido na terceira dimensão (2)


Na postagem anterior desta série, eu contava do fato de ter experimentado na noite desse domingo uma sensação similar à daquela primeira vez em que assisti a um filme no cinema. A saber: "Paixão de um homem" era o filme, Waldick Soriano era "o artista" e "Rex" era o cinema, em Parelhas, minha cidade quase natal, com a particularidade ainda mais interessante de que aquele era também o primeiro filme exibido pelo cinema recém-aberto, novinho em folha. O cinema onde no domingo assisti a "Avatar" também ainda é recente - é a sala do Boulevar Shopping, aberto na passagem de 2009 para 2010 no centro de compras também ainda recente do final da Asa Norte. E as coincidências não param por aí, o que faz deste início de 2010 um ano estranhamente mágico para mim - um ano que traz de volta coisas que eu guardo com muito cuidado no tal fundo do coração mas das quais não imaginava ter um "revival" tão cedo, ou jamais.

Mas deixemos de drama e vamos às demais coincidências: há quanto tempo você não tem um trabalho danado para comprar um ingresso de filme? Eu não sei vocês, mas pra mim foi um custo e tanto adquirir a preciosa entrada para "Avatar". Era um tal de chegar no cinema e ver a plaquinha: "ingressos esgotados". Ontem eu fui esperto e, antes do almoço, passei no shopping só pra comprar a entrada; e peguei fila, esperei um tempão. Na hora de entrar na sala, fila de novo - embora desnecessária, já que nesta nova sala você já compra o lugar marcado. Uma vez na sala, você entende tudo: o lugar está lotado, por gente de todas as idades, jovens, senhoras e casais, muitos casais. Uma platéia parecida com a do filme de Tarantino já citado na primeira parte da postatem(o "Bastardos Inglorios") - que este também tem o misterioso poder de trazer famílias inteiras de volta para as salas de cinema.

Tudo isso, a dificuldade de comprar ingresso, fila para entrar, a coisa mais cerimonial e organizada do lugar marcado, a sala cheia, a expectativa generalizada sobre como seria a sessão, tudo me levou de volta à infância, aos tempos dos primeiros filmes. Mas nem em sonho eu poderia imaginar a magia que seria esse tal de 3D Digital, capaz de me lembrar daquela velha piada do cara que nunca foi ao cinema e tomou um susto, abaixando-se na hora em que a cena mostrava um trem vindo em sua direção. Não cheguei a tanto, mas houve uma hora no "Avatar" em que alguém sacode no chão umas bombas parecidas com granadas e eu, com a nítida sensação de que um dos petardos vinha bem na direção do meu rosto, pisquei o olho, num susto daqueles. A esta altura, totalmente imerso no filme, eu já havia até esquecido daquele momento em que a gente fica meio sem jeito, sem saber bem quando ou exatamente como colocar os óculos ridículos no rosto. No meu caso, que é de óculos sobre óculos, aí que o negócio fica mais nerd.

"Avatar", o filme para além da tecnologia - embora eu ache difícil desligar uma coisa da outra - lembra muito "Dança com Lobos". É uma espécie de "Dança com Lobos" vestida com robótica, adornada por outras mitologias mas de extração igualmente alimentada pelo conflito entre a tecnologia a serviço do mal e a natureza indefesa, à flor da pele e à beira do abismo. Já se disse que não faz sentido um filme que deve tanto à tecnologia fazer uma crítica deste mesmo instrumento de dominação, como se essa contradição tão evidente não valorizasse ainda mais o filme. E no final das contas, "Avatar" também me lembrou muito os filmes da série de "Maciste", heroi italiano do pequeno expectador que eu fui - numa semelhança que turva ainda mais qualquer possibilidade de análise distanciada do fenômeno do momento.

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