segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Longa vida a Alencar


Por dever de ofício, assisto pelo menos três vezes a praticamente todas as reportagens que a TV Câmara exibe em seus telejornais. Como editor do "Câmara Hoje", que é o telejornal noturno (segunda a quinta, 21h, veja aqui), reviso as reportagens antes de elas irem ao ar, para ajustes eventuais, para distribuir os assuntos ao longo do jornal, para escrever as aberturas e outras tarefas do ramo. Depois, assisto a tudo de novo no momento mesmo em que o jornal está indo ao ar, junto com o pessoal do switcher, que é uma cabine onde um monte de técnicos atuando em sincronia absoluta leva o telejornal até sua casa. E, finalmente, vejo tudo de novo toda sexta-feira, quando minhas tardes e noites são dedicadas a revisar a versão final do programa "Panorama" que, por sua vez, é uma espécie de resumo dos telejornais da semana que está terminando. Por isso, quando chego à terceira revisão, é impossível evitar uma certa sensação de saturamento. Mesmo assim há momentos que contrariam esse enjoo visual e saltam da tela até na terceira revisão.

Semana passada, houve um desses momentos. Foi na reportagem sobre a reabertura do ano legislativo no Congresso. Depois dos discursos regulamentares, dos aplausos protocolares e das declarações habituais, a reportagem destacava a homenagem prestada no Plenário ao vice-presidente da República, José Alencar. Uma salva de palmas daquelas de arrepiar coração veio abaixo, fazendo o vice levantar algo timidadamente e agradecer se curvando, com um sorriso meio encabulado no rosto. Belo momento, para sublinhar a bela experiência que o velhinho Alencar tem transmitido a tantos brasileiros quanto sejam aqueles interessados em acompanhar sua epopéia contra sabe-lá quantos tumores.

Por sinal, um deles, parece que o maior de todos, tem diminuído, segundo as últimas notícias. Mas, de fato e no fim das contas, nem interessa muito o desempenho médico de Alencar. Interessa, comove, impressiona é a maneira mineiramente sábia como José Alencar carrega sua doença, sem demonstrar o fardo que ela com toda certeza representa, mas, ao contrário, sempre exibindo aquele sorriso que não parece combinar em nada com quem acabou de sair de uma unidade de terapia intensiva, de uma cirurgia de dez horas, de um exame nem sempre reabilitador. Alencar, com seu bom humor imune aos tumores, é um tijolinho a mais no muro de otimismo que o brasileiro vem erguendo em torno de si nos últimos anos.

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