terça-feira, 1 de dezembro de 2009

A história faz Justiça (2)


O fato é que, com o escândalo das propinas envolvendo o governador José Roberto Arruda, o único do DEM em todo o país, seus secretários e deputados distritais, o velho – digo, novo – Democratas de guerra é obrigado a experimentar, ao menos momentaneamente, as mesmas pilhérias repetidas à exaustão que o PT e Lula tiveram que suportar em seguida ao caso do mensalão. A filósofa Marilena Chauí, tão enxovalhada pelos magos da imprensa golpista, já andou falando sobre isso, mas de maneira muito mais grave. Dizia ela, em seguida ao “mensalão”, que o próprio uso dessa palavra – cuidadosamente repetida por Roberto Jefferson naquele histórico discurso na Câmara -, assim o de outros termos e expressões que a grande imprensa associava ao PT e a Lula, era uma estratégia de linchamento linguístico de tantos quanto fizessem parte do governo. Uma técnica de repetição que procurava, no limite, comprometer definitivamente a imagem do único partido que verdadeiramente questionava as práticas e os princípios de legendas tradicionais como o próprio DEM, então PFL.

Então estoura o caso do “propinoduto” (lembra dessa?) do democrata Arruda e, para o gáudio dos redatores dos portais na internet, surge todo um vasto vocabulário relacionado ao escândalo que rende pilhérias e piadas. Arruda diz que o dinheiro que no vídeo aparece na mão dele era para comprar panetone e distribuir na campanha eleitoral. Pronto: nos bares, nos bancos, nas escolas, nas quadras, todo mundo se pergunta: - Ué, eu não recebi panetone nenhum, você recebeu? O “mensalão” já virou “demsalão”. O “Oração de São Durval”, em vídeo e texto, vai e volta em sites e e-mails graciosos. E ainda há o indefectível “dinheiro na meia” do deputado Leonardo Prudente. É apenas uma amostra, concentrada em quatro dias, de um linchamento que atingiu o Partido dos Trabalhadores durante meses – durante anos, melhor dizendo, que isso vem, mais forte ou mais sutilmente, desde 2005.

O leitor tem todo o direito de se perguntar: -Ué, mas o DEM não está apenas se igualando ao PT ao usar do mesmo recurso de distribuir propina? Eu respondo: Não. O que aconteceu com os petistas em 2005, da forma como foi exposta por Roberto Jefferson, foi um desvio condenável que não se ajusta aos princípios e às práticas histórias do partido, que já sofreu todo tipo de hostilidade por defender a igualdade de oportunidades, a redistribuição da renda, o investimento público para quem mais precisa dele, a legitimidade de o Estado definir políticas inclusive financeiras e outros dogmas que os liberais não querem ver nem pintados. Já o que acontece com o DEM, eventualmente em Brasília, é apenas um exemplo a mais de algo que está incrustado na personalidade do partido: o tirar proveito do Estado, o apropriar-se do dinheiro público, o uso do poder político como propriedade privada, como bem atesta a trajetória da legenda desde os tempos em que era a Arena, sustentáculo paraparlamentar da ditadura à brasileira.

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