Se você também pretende se inocular com o vírus do vídeo da tevê aberta, previna-se: na segunda-feira, o dependente tem que ser rápido no controle remoto para não perder nem o final de "Maysa" nem o inicio do episódio do dia de "A lei e o crime", seriado da Record que emula "Cidade de Deus", chafurda na estética de tiroteio de "Tropa de Elite", recorre a referências didáticas da série e do filme "Cidade dos Homens", remete à experiência anterior da própria emissora (a novela "Vidas opostas") e, assim como a minissérie global, é filmada com equipamento de alta definição - o que confere, por si só, um visual supratelevisivo à produção.
Produção é a palavra. Assim como Maysa, sobressai de saída essa estampa de filme bem produzido, independente das esparrelas narrativas a que apele para prender o telespectador. Sim, o seriado tem sido criticado por reproduzir o esquema do "filme de favela" - a mesma acusação que foi feita a "Cidade de Deus", e sabemos que dez minutos do filme invalidam essa alegação, pela força dramática e formal do que se vê na tela. "A lei e o crime" também tem sido alvo de críticas que reclamam se seu parentesco com as novelas, de seus chavões que fazem de pobres e pretos bandidos e de patricinhas da alta burguesia heroínas da justiça. Pode ser, mas sendo um produto televisivo - embora com tratamento visual de cinema - para ser apreciado em ambiente caseiro e não numa sala de exibição, torna-se compreensível que o roteiro vá se valer de personas e situações já familitares ao telespectador. Há também um certo ranço politicamente correto nessa crítica. E há o próprio fato de que pessoas e problemas abordados no seriado, da maneira, digamos, tradicional e conservadora como ela o faz, ainda não estão esgotados de todo e se prestam, sim, a uma reflexão visual sobre o tema da criminalidade urbana, do tráfico e consumo de drogas, do controle das favelas - sem esquecer que estamos falando também de entretenimento. Enfim, tudo isso cheira a "Cidade de Deus" - ao que foi dito sobre o filme e à maneira como o próprio filme se sobrepôs ao que foi dito.
Cada dramaturgia tem o James Cagney (na foto que ilustra a postagem) que convém. No caso de "A lei e o crime", a saga ao contrário de Nandinho da Bazuca e a quase inverossímil ascenção dramática da patricinha que se torna delegada de polícia contêm, de um lado, o tom novelesco do anti-herói oprimido pelas circunstâncias e, de outro, o exagero tipo novela-das-oito que se legitima pelos próprios extremos - e prende, efetivamente, atenção de quem, para além de qualquer má vontade crítica, senta diante da tevê à noite e deixa que aquele aparelho, qual Sherazade digital, lhe conte uma história que tanto distraia quanto faça pensar antes de dormir. Trata-se apenas disso - e não é pouco.
Pensando bem, e ao contrário do que disse lá no início, você pode se viciar relaxado: como "Maysa" está acabando, não háverá, a partir da próxima segunda-feira, aquele problema da coincidência de horário entre o final da minissérie da Globo e o início do seriado da Record. Mas é claro que eu não iria abrir mão desse gancho narrativo para chamar sua atenção para as duas atrações quase simultâneas na tevê aberta deste início de ano.
Produção é a palavra. Assim como Maysa, sobressai de saída essa estampa de filme bem produzido, independente das esparrelas narrativas a que apele para prender o telespectador. Sim, o seriado tem sido criticado por reproduzir o esquema do "filme de favela" - a mesma acusação que foi feita a "Cidade de Deus", e sabemos que dez minutos do filme invalidam essa alegação, pela força dramática e formal do que se vê na tela. "A lei e o crime" também tem sido alvo de críticas que reclamam se seu parentesco com as novelas, de seus chavões que fazem de pobres e pretos bandidos e de patricinhas da alta burguesia heroínas da justiça. Pode ser, mas sendo um produto televisivo - embora com tratamento visual de cinema - para ser apreciado em ambiente caseiro e não numa sala de exibição, torna-se compreensível que o roteiro vá se valer de personas e situações já familitares ao telespectador. Há também um certo ranço politicamente correto nessa crítica. E há o próprio fato de que pessoas e problemas abordados no seriado, da maneira, digamos, tradicional e conservadora como ela o faz, ainda não estão esgotados de todo e se prestam, sim, a uma reflexão visual sobre o tema da criminalidade urbana, do tráfico e consumo de drogas, do controle das favelas - sem esquecer que estamos falando também de entretenimento. Enfim, tudo isso cheira a "Cidade de Deus" - ao que foi dito sobre o filme e à maneira como o próprio filme se sobrepôs ao que foi dito.
Cada dramaturgia tem o James Cagney (na foto que ilustra a postagem) que convém. No caso de "A lei e o crime", a saga ao contrário de Nandinho da Bazuca e a quase inverossímil ascenção dramática da patricinha que se torna delegada de polícia contêm, de um lado, o tom novelesco do anti-herói oprimido pelas circunstâncias e, de outro, o exagero tipo novela-das-oito que se legitima pelos próprios extremos - e prende, efetivamente, atenção de quem, para além de qualquer má vontade crítica, senta diante da tevê à noite e deixa que aquele aparelho, qual Sherazade digital, lhe conte uma história que tanto distraia quanto faça pensar antes de dormir. Trata-se apenas disso - e não é pouco.
Pensando bem, e ao contrário do que disse lá no início, você pode se viciar relaxado: como "Maysa" está acabando, não háverá, a partir da próxima segunda-feira, aquele problema da coincidência de horário entre o final da minissérie da Globo e o início do seriado da Record. Mas é claro que eu não iria abrir mão desse gancho narrativo para chamar sua atenção para as duas atrações quase simultâneas na tevê aberta deste início de ano.
Nenhum comentário:
Postar um comentário