Ela está entre Virgínia Rosa e Na Ozetti – mas há vários momentos em que é muito melhor do que essa duas aí juntas. Ceumar, com esse belo nome que funde dois extremos de uma paisagem marinha, canta como uma sereia... do sertão. Mineira do interior como é, tem uma brejeirice ancestral escondida na voz que só à primeira vista parece pequena. Mas também pode ser urbanamente pop quando quer – e já quis, para nosso deleite auditivo.
Em “Achou”, o CD em que interpreta basicamente canções compostas por Dante Ozetti (em parceria com outras figuras), Ceumar coloca essa voz entre camadas de cordas de bandolins e violões de nylon e de aço. Da primeira à última faixa, embora se passe da canção até o samba e o frevo, a embalagem sonora é a mesma: jogos de violas em evolução no meio do qual sibila, segura mas aquática e verdejante, a voz e a interpretação de Ceumar.
Esse jogo é marcante na faixa de abertura, “Pra lá”, onde Ceumar sustenta com voz evocativa uma letra que sugere o poder de qualquer transcendência. Já em “Parei querer”, temos uma ligeira inflexão para o pop de que se falou – e, pudera, aqui se trata de parceria de Dante Ozetti com Zelia Ducan. Em “Partidão”, Zeca Baleiro constrói mais uma de suas freqüentes metáforas futebolísticas, numa faixa que transpira humor por baixo da levada lúdica com que Ceumar conduz o tema.
Mas o momento culminante do disco é mesmo a faixa “Parte B”, que abre – e segue – com piano e bateria em andamento mínimo e sentimento máximo, cheia de pulsos e pausas – e plena de silêncios. Interpretação colocada com um cuidado de delineador de cristais, numa performance em que Ceumar nos faz lembrar da maior de todas, Elis.
Há ainda um hino informal (“Visões”) cantado em dueto qual jogral e, entre outras, a doce ironia de “A tardinha” – canção que cita o clássico da bossa nova e o desdiz, mais ou menos como já fez José Miguel Wisnik em “se meu mundo caiu / eu que aprenda a levitar”. Nesta “A tardinha”, a negativa vem com “o meu barquinho vai / mas a tardinha não cai".
E assim prossegue esse terceiro disco gravado por Ceumar, sempre com essa vestimenta sonora meio “saia azul com blusa de flor” – verso de uma das músicas – que lhe marca o estilo e a aparência. Ceumar, que por si só já tem aquela estampa renascentista de moça extraída de um quadro clássico entre janelas e jardins, soa mesmo, ao cantar, como uma espécie de lirismo que vem de outros tempos e lugares mais remotos.
É daquelas cantoras que conquistam o nosso ouvido inexoravelmente – como se a gente se perguntasse como foi possível, até aquele momento do primeiro encontro, viver sem ouvir tal beleza. A primeira vez que ouvi Ceumar foi em Goiânia, numa loja de discos de um shopping center – o glorioso Bazar Paulistinha, que sempre reserva alguma surpresa a quem passar por lá. Entrei e parei ao ouvir aquela voz transversal refazer, com uma delicadeza cheia de graça e de sertão, as frases de “Galope Rasante”, um quase clássico nordestino de Zé Ramalho. Saí dali com o CD e a expectativa de ouvir o restante. Mais tarde, Ceumar veio a Brasília e fez um show acompanhada apenas por violão no CCBB, desafiando com sua marcante presença física a conciliação da imagem que a gente foi construindo só a partir de sua voz ternamente gravada.
Nunca mais Ceumar voltou por aqui. Deve estar fazendo shows entre Minas, Oropa e Bahia. Se ela passar por Natal, não deixem de vê-la e ouvi-la.
Mas o momento culminante do disco é mesmo a faixa “Parte B”, que abre – e segue – com piano e bateria em andamento mínimo e sentimento máximo, cheia de pulsos e pausas – e plena de silêncios. Interpretação colocada com um cuidado de delineador de cristais, numa performance em que Ceumar nos faz lembrar da maior de todas, Elis.
Há ainda um hino informal (“Visões”) cantado em dueto qual jogral e, entre outras, a doce ironia de “A tardinha” – canção que cita o clássico da bossa nova e o desdiz, mais ou menos como já fez José Miguel Wisnik em “se meu mundo caiu / eu que aprenda a levitar”. Nesta “A tardinha”, a negativa vem com “o meu barquinho vai / mas a tardinha não cai".
E assim prossegue esse terceiro disco gravado por Ceumar, sempre com essa vestimenta sonora meio “saia azul com blusa de flor” – verso de uma das músicas – que lhe marca o estilo e a aparência. Ceumar, que por si só já tem aquela estampa renascentista de moça extraída de um quadro clássico entre janelas e jardins, soa mesmo, ao cantar, como uma espécie de lirismo que vem de outros tempos e lugares mais remotos.
É daquelas cantoras que conquistam o nosso ouvido inexoravelmente – como se a gente se perguntasse como foi possível, até aquele momento do primeiro encontro, viver sem ouvir tal beleza. A primeira vez que ouvi Ceumar foi em Goiânia, numa loja de discos de um shopping center – o glorioso Bazar Paulistinha, que sempre reserva alguma surpresa a quem passar por lá. Entrei e parei ao ouvir aquela voz transversal refazer, com uma delicadeza cheia de graça e de sertão, as frases de “Galope Rasante”, um quase clássico nordestino de Zé Ramalho. Saí dali com o CD e a expectativa de ouvir o restante. Mais tarde, Ceumar veio a Brasília e fez um show acompanhada apenas por violão no CCBB, desafiando com sua marcante presença física a conciliação da imagem que a gente foi construindo só a partir de sua voz ternamente gravada.
Nunca mais Ceumar voltou por aqui. Deve estar fazendo shows entre Minas, Oropa e Bahia. Se ela passar por Natal, não deixem de vê-la e ouvi-la.
Nenhum comentário:
Postar um comentário