quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Os servos de Zilda


Havia em Zilda alguma coisa de Irmã Dulce e outro tanto de Madre Tereza. Não necessariamente a auréola da caridade, embora também. Mas algo mais ligado à matéria da serenidade. Talvez por isso eu - e imagino que muita gente mais - pensasse que Zilda, mais do que missionária, era freira mesmo. Talvez isso explique a surpresa de saber, somente após a morte estúpida em algo tão pouco sereno como é um terremoto, que Zilda foi, antes, mulher e mãe. Não vou nem dizer avó, que muito provavelmente também terá sido - e o comentário se faz aqui sem consulta às vastas biografias nos jornais e na tevê -, pois que na qualidade de ser avó há também muito da característica de ser uma madre, superior.

Zilda fica sendo assim nossa santa não canonizada, por dispensável o ritual vaticânico. Se ficamos sem ela em pessoa, é certo que sua morte abrupta acaba por magnetizar definitivamente aquele halo que já a envolvia enquanto entre nós exercitava sua presença no mundo. Pois que o desaparecimento corporal dessa padroeira informal, essa unanimidade bem-vinda, nos sirva, no calor do noticiário retroativo e das homenagens paridas às pressas, para ao menos deslocar um pouco o foco da pessoa e de sua nobreza humanitária para aqueles de quem tal sentimento se fazia objeto: as pessoas menos favorecidas, que delas ainda as temos em demasia. Que as missas à santa Zilda nos lembrem, inadvertidamente que seja, da existência de seus apóstolos invisíveis, que são as pessoas pobres, os despossuídos de qualquer chance, os mortos-vivos para os quais ninguém presta atenção, quanto menos homenagens. Nâo foi, mas não foi mesmo, o caso de Zilda.

3 comentários:

ana sua mana disse...

o mundo ficou mesmo pior, sebá. principalmente pros apóstolos invisíveis da dra. zilda.

Francisco Sobreira disse...

Tião,
O que me causa indignação e revolta é que uma mulher dessas morre (e de maneira trágica), enquanto os nossos políticos (a maioria) estão aí, vivos. Vivíssimos, aliás. Zilda, grande personalidade, tanto quanto o seu irmão, Dom Paulo Evaristo. Um abraço.

Unknown disse...

Pregaram J.Cristo numa cruz, e elegeram barrabás o "político do ano", os bons são chamados ao Pai, para nele cumprirem sua grande missão, servir de exemlo. Aos outros, as agruras das leis da matéria.