terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Ligue a tevê


Nasce um ator na televisão brasileira. Até as 22h de ontem, havia um rapaz chamado Fábio Assunção que, se não fazia feio, também não impactava bonito. Então, veio uma prisão espalhatosa, um escândalo público, um vício daqueles capazes de transformar atleta olímpico em farrapo humano, e tudo mudou. Fábio Assunção viu o fundo do poço e isso, pelo que nós vimos ontem à noite na tevê, fez muito bem a ele, como se fora um "batismo da sarjeta" que faz falta a tanta gente pretensiosa. O Herivelto Martins que ele trouxe para a minissérie global que estrou nessa segunda é carismático sem muita elegância, simpático porque cafajeste, trôpego porquanto verdadeiro. Tropeça em cena como quem tira um sarro de si mesmo e segue, riso solto e postura gaiata de quem diz "não foi nada". Um bonachão brasileiro, como há tempos a gente não via na televisão. Mesmo com a cara de bom moço de Fábio Assunção.

A Dalva de Adriana Esteves está mais para heroína chorosa de novela das oito - e fugir disso não é nada fácil, já que a biografia da representada não favorece coisa melhor. A estrela Dalva sofreu que nem cometa que vê sua luz minguar em céu de brumas. Mais um motivo pra gente cuspir no chão da sala toda vez que aparece o canalha do Herivelto, motor desse sofrimento tão anos cinquenta, tão Antônio Maria. Mas, surpresa, não é isso o que acontece, porque o Herivelto de Assunção é jorgeamadiano, um Vadinho de terno branco que ressurge no cenário da era do rádio carioca. Malandro como aqueles de letra de samba canção, leve como a mão do punguista de antanho, divertido até quanto impaciente e autoritário.

Não é o primeiro caso: já vimos nascer uns grandes e inesperados atores de extração global pelos quais não dávamos um oscar de lata. Uma lista que começou com uma Glória Pires e que tem entre os mais recentes exemplos um Rodrigo Santoro. Fábio Assunção está prontinho para entrar na lista. Só precisa manter o sopro de novidade que seu Herivelto assobiou no primeiro capítulo até esta sexta-feira, quando termina a nova minissérie biográfica de verão do espelho global.

Nenhum comentário: