sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Entreblogues - para ler o "Caótico"

Acrescento mais um pernambucano, além de Samarone Lima, na lista dos blogues humildemente recomendados pelo "Sopão". É o "Caótico", de Inácio França, que você lê com a agilidade, a destreza e o espírito brincalhão que têm as pedras chatas arremessadas de leve sobre uma lagoa ou um açude. Traduzindo: triscando na água, parágrafo por parágrafo, postagem sobre postagem, meio na base do sem-parar, rindo por dentro, com o prazer fortuito de dividir no silêncio da leitura essas impressões tão óbvias e no entanto tão vagas que a gente tem, sobretudo sobre os livros - que são a matéria primordial do blogueiro.

Cheguei ao "Caótico" empurrado pelas dicas do "Estuário" e lá encontrei Inácio França entusiasmado com alguns livros que também me haviam chamado a atenção, como as peripécias criadas por Georges Simenon, pra ficar só num exemplo. Uma certa perplexidade na maneira de enxergar a forma como atualmente é praticado esse ofício que é de tantos de nós - o jornalismo - também é outro ponto em comum que surge nos textos do "Caótico". Enfim, segue o trecho regulamentar (de um texto sobre o livro "Hiroxima"), como é de praxe nas postagens da impressionante série "Entreblogues" (e o link já está ali na lista ao lado):

"A leitura de Hiroshima leva a sentir o peso da responsabilidade que caí sobre um repórter ao escutar relatos como aqueles, transbordantes de dor e sofrimento inimagináveis. Quem se dispõe a escutar, precisa estar consciente de que assume o compromisso de traduzir, de passar adiante, o que ouviu, viu e o que as pessoas sentiram. E também o que sentiu.
E Hersey sofreu, não tenho dúvidas disso. Se não sofreu, porque ele voltaria lá, quarenta anos depois, em plena década de 80, para descobrir qual o destino das seis vidas que desnudou em 1946?
Ele sofreu e faz sofrer quem de dispõe a ler seu texto, leve e fácil, capaz de contar histórias duras e difíceis.
Além da linguagem clara, Hiroshima contém outro recurso que prova que Hersey era bom todo. Os seis relatos são apresentados em fragmentos intercalados. Ora você está lendo o testemunho do médico Fuji, em seguida é o jesuíta Klinsorge, depois o pastor Tanimoto e por aí segue, até Fuji entrar em cena novamente. Esse recurso garante a sensação de simultaneidade, de que as coisas aconteceram ao mesmo tempo, como realmente foi.
Na verdade, o que Hersey fez foi Jornalismo. Não entendo a razão de juntar o adjetivo “literário”. Minha hipótese é que criaram esse rótulo para que continuemos a chamar de “jornalismo” as baboseiras publicadas nas revistas, nos jornais e transmitidas pelos telejornais."

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