Mas não achei ruim. É pra chover? Então que chova, ora. Chove chuva, chove sem parar. E dá-lhe cortina d'água, transformando o ensaio de experiência natural em epifania de férias. Brigado, Pedrão: depois de anos e anos eu voltei a tomar aquele banho de chuva, óculos protegido pela viseira do boné, de maneira que nem a miopia foi um problema. Vi tudinho: cada córrego de meio-fio, riachos temporários de canto de rua, poças destruidoras de tênis, regatos sob árvores respingantes. É bonita a chuva entre as calçadinhas mínimas do Plano Piloto. Só faltou o barquinho de papel - que, não, faltou não, existiu sim embora na qualidade de inventado.
Dois parágrafos tá bom? Convenceu-se da epifania? Não. Ah, então tire férias nem que seja por uma tarde. Pegue uma folga, um banco de horas ou invente que passou mal, alguém morreu, alguém nasceu. Só não dá pra encomendar a chuva, mas epifania que é epifania não é assim não, meus camaradas. É preciso estar disponível, ligar uma antena tão imaginária quanto o barquinho de papel, olhar pro chão, olhar pro céu. Aspirar a cidade e caminhar por ela como se fora por mares nunca dantes navegados. Reinventar um tempo e um lugar. Tente. Talvez até chova um pouco. Aqui ou em Macaíba, ainda haverá de ser tempo para uma derradeira chuva do caju.
P.S.: A chuva da foto é outra, não vou enganar vocês. Mas repare na distorção: como é importante, de vez em quando, tirar as coisas do lugar só pra ver o efeito.
2 comentários:
Bom demais ler o que Tião escreve. Bom demais.
E que essa chuva chegue até nós, porque aqui os cajus estão esperando até agora.
Chuva, qeu é chuva boa por aqui, nenhuma.
Cheguem logo pra ver se a chuva chega junto.
Beijos a família toda.
Cheguem logo.
delicioso o texto tião, adoro quando tu te solta. estás mesmo de férias...
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