quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

O virtual presidente



O eleito foi Marco Maia, mas no anticarisma que define essas novas personalidades à frente dos poderes - Dilma, Maia, Peluzo - quem mais apareceu na noite desta terça-feira, conduzindo a eleição da nova mesa diretora da Câmara, foi o deputado poti Henrique Alves. E não foi a primeira vez que ele conduziu o rito final da sucessão no Plenário Ulisses Guimarães. Acontece que, como o deputado com maior número de mandatos entre os de mais idade, cabe sempre a ele esse privilégio institucional.

Também foi Henrique quem proclamou a vitória de Michel Temer na disputa anterior.É possível que também tenha sido ele quem entregou o cargo a Aldo Rebelo e até a Severino Cavalcanti. É só ver os arquvos para confirmar, mas o que interessa é que ontem parece ter sido diferente. Tudo porque, ao que tudo indica - embora garantias não hajam neste terreno - na próxima disputa caberá a ele não proclamar o resultado, mas recebê-lo como uma dádiva política. E talvez por isso, na noite de terça o que se viu na Câmara foi quase um trailer desse momento que ainda não aconteceu.

Henrique, na qualidade de comandante da eleição, chamou mais a atenção das câmera da TV Câmara do que os próprios competidores. Do que o próprio vencedor também. Não se está falando aqui de mérito ou legitimidade, mas de performance pura e simples. Muito à vontade entre seus pares por onde circula há décadas - e seja lá o que isso queira dizer de bom ou de ruim - Henrique, nas poucas intervenções que fez, fez-se aplaudido e congratulado com uma energia que não se viu, por exemplo, no discurso de Marco Maia - fosse como candidato ou já como vencedor. Diante de um Silvio Costa enfezado como de costume, respondeu com dois anos de antecedência uma dúvida regimental-política que se constitui em saia justa enfiada nas pernas do Legislativo e do Judiciário (a questão, pra quem não viu, era sobre dar ou não posse aos suplentes das coligações - e não aos dos partidos - contrariando parecer do Supremo Tribunal Federal). O provocador Costa aproveitou para saudar a resposta como a primeira boa manifestação de Henrique como o presidente da Câmara que o político potiguar pretende ser. E houve quem gritasse para o áudio apurado da TV Câmara um "Henrique Presidente" antes mesmo de se formar aquela fila infinita de deputados para votar na urna eletrônica.

Performance não tem a ver com posição política. O sujeito pode ser o mais completo parlamentar em termos de compreender os impasses brasileiros e as alternativas para resolvê-los, mas também um desastre quando tenta convencer dessas soluções o distinto público. Basta lembrar a própria Dilma. Isso é para deixar claro que, ao ofuscar em performance aqueles que deveriam ter sido as estrelas do plenário na noite de ontem, Henrique não se torna melhor - só dá uns passos à frente. E como tem passeado à vontade o moço nos últimos dias, a espalhar no ar mil e umas queixas do governo, a investir no declaratório espetacular de que vem fugindo o mesmo governo, até mesmo cometendo o pecado mais capital da política brasileira atual, que é o de cutucar o desempenho de outra peça deste tabuleiro - os jornalistas, suas redações e o produto que levam ao ar ou às bancas. Onde isso vai dar não se sabe, mas é certo que a presença de Henrique fez-se notar mais nitidamente ao longo de todo esse processo.

É mais ou menos como a campanha presidencial e seus fiapos que aqueles mesmos jornalistas não se cansam de puxar: Marco Maia, assim como Dilma, foi eleito, mas o que parece interessar mesmo - já que tal resultado não agrada às redações - é 2014. Aécio, Serra ou Lula, quem estará lá... Um mês depois da posse na Presidência da República, ainda é como se Dilma fosse uma presidente-tampão, um acidente das urnas que causa certo incômodo. Nada muito grave, mas algo que se pode resolver já-já, daqui a quatro anos, corrigindo a História e devolvendo Serra - ou um seu aparentado mais suave e deglutível - ao lugar que sempre lhe coube no Palácio do Planalto. Henrique, em cargo diverso mas circunstância semelhante, mal parece esperar se passarem os dois anos de mandato presidencial de Marco Maia para sentar na cadeira da qual disse, sem dirfarces na noite de ontem, ser difícil se afastar. Pelas vias regimentais, terá que esperar, mas pelo caráter simbólico de sua participação na sessão preparativa, é como se já estivesse lá, apenas deixando o gaúcho Maia ter a impressão de comandar a casa.

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