O Sopão continua em obras, interditado para postagens regulares. Isso acontece porque o Tião do Sopão ainda não terminou de se mudar do apartamento na 316 Norte para a casa na QI 2 do Lago Norte. A distância entre um e outro nem é tão grande, e de fato o grosso da mudança já foi feito. Mas ainda estamos aguardando que a NET compareça para religar os cabos dos computadores, tevê e o combo todo que permite essa lambança virtual entre amigos de Brasília, Natal, Seridó e arredores. Aguardem só mais um pouco. Enquanto isso, fiquem com mais um texto da inigualável sessão "Entreblogues", agora uma postagem do blogue do jornalista Luiz Carlos Azenha, que, como sempre nesses casos, logo logo estará integrado à lista de links ao lado. O texto de Azenha é especialmente recomendado para os leitores que ignoram o lado escuro das redações de telejornais e jornalões - essas folhas consagradas que, não se admirem, são capazes de, em procedimentos absolutamente rotineiros, deixar na poeira qualquer Jornal de Hoje em campanha. Segue o texto:
PAU DE MATAR MATÉRIA
O aquário é uma sala envidraçada onde ficam os peixes graúdos de uma redação de Jornalismo. A mão pesada do aquário vai ficar cada vez mais pesada.Hoje, em qualquer redação moderna da TV brasileira, um editor-chefe de um telejornal pode acompanhar à distância a produção do texto do repórter. Graças à informatização. Você escreve num terminal, salva o texto, e acessando de outro terminal o chefe já tem uma idéia do que você está escrevendo.Problema maior, em minha opinião, é a pauta pré-definida. Se o repórter desmentir a proposta de reportagem corre o sério risco de se queimar.
Essa tensão, entendam, existe em qualquer redação. É óbvio que se você junta três jornalistas discutindo um texto haverá discordâncias. De estilo, de conteúdo, de hierarquização das informações. Mas, no passado, o papel do repórter era preponderante.Não é mais.
Meu amigo Tonico Ferreira costuma brincar que, nas redações, existe um certo pau de matar matéria. Refere-se aos temas relevantes que passam batido pelos telejornais. É que, com raríssimas exceções, a pauta é definida de cima para baixo. Idéias pré-concebidas no aquário acabam sendo entregues a repórteres, que saem às ruas em busca dos fatos e imagens que justifiquem as hipóteses. Curiosamente, a indústria do entretenimento incentiva a personalização do Jornalismo. É comum ver fotos de repórteres e apresentadores na capa de Caras ou de revistas de fofocas.
O repórter é protagonista, muitas vezes mais importante do que a própria notícia. Por outro lado, o papel preponderante do aquário incentiva à "despersonalização" das reportagens. É a vitória da forma sobre o conteúdo. O repórter é mais importante para o marketing do produto do que para a produção de informação.
Os textos são previsíveis, os entrevistados também, o tom de voz, o sotaque - tudo é tão homogêneo que dificilmente você se surpreende com alguma reportagem no telejornal. A criatividade, muitas vezes, fica por conta dos repórteres cinematográficos e dos editores de imagens, aqueles que são encarregados de escolher o que você vê na TV.
Porém, isso está prestes a acabar, se o modelo aplicado hoje aos repórteres for mantido.As imagens gravadas em disco - não mais em fita - serão descarregadas diretamente num servidor. Assim, os repórteres poderão assistí-las diretamente nos terminais de computador. Esse novo sistema também permitirá que a turma do aquário veja as imagens brutas, não editadas, assim que chegarem à redação. O que permitirá o microgerenciamento também das imagens.
Há outro modelo de gestão possível. Se aos repórteres for dada maior responsabilidade pelo conteúdo das matérias, teremos maior diversidade, garantia de pluralidade, uma produção heterogênea e um telejornal mais humano, porque narrado com a convicção daqueles que, em carne e osso, estiveram em contato com a notícia. Esse modelo descentralizado, no entanto, dificulta o uso do Jornalismo para a pregação ideológica.
PAU DE MATAR MATÉRIA
O aquário é uma sala envidraçada onde ficam os peixes graúdos de uma redação de Jornalismo. A mão pesada do aquário vai ficar cada vez mais pesada.Hoje, em qualquer redação moderna da TV brasileira, um editor-chefe de um telejornal pode acompanhar à distância a produção do texto do repórter. Graças à informatização. Você escreve num terminal, salva o texto, e acessando de outro terminal o chefe já tem uma idéia do que você está escrevendo.Problema maior, em minha opinião, é a pauta pré-definida. Se o repórter desmentir a proposta de reportagem corre o sério risco de se queimar.
Essa tensão, entendam, existe em qualquer redação. É óbvio que se você junta três jornalistas discutindo um texto haverá discordâncias. De estilo, de conteúdo, de hierarquização das informações. Mas, no passado, o papel do repórter era preponderante.Não é mais.
Meu amigo Tonico Ferreira costuma brincar que, nas redações, existe um certo pau de matar matéria. Refere-se aos temas relevantes que passam batido pelos telejornais. É que, com raríssimas exceções, a pauta é definida de cima para baixo. Idéias pré-concebidas no aquário acabam sendo entregues a repórteres, que saem às ruas em busca dos fatos e imagens que justifiquem as hipóteses. Curiosamente, a indústria do entretenimento incentiva a personalização do Jornalismo. É comum ver fotos de repórteres e apresentadores na capa de Caras ou de revistas de fofocas.
O repórter é protagonista, muitas vezes mais importante do que a própria notícia. Por outro lado, o papel preponderante do aquário incentiva à "despersonalização" das reportagens. É a vitória da forma sobre o conteúdo. O repórter é mais importante para o marketing do produto do que para a produção de informação.
Os textos são previsíveis, os entrevistados também, o tom de voz, o sotaque - tudo é tão homogêneo que dificilmente você se surpreende com alguma reportagem no telejornal. A criatividade, muitas vezes, fica por conta dos repórteres cinematográficos e dos editores de imagens, aqueles que são encarregados de escolher o que você vê na TV.
Porém, isso está prestes a acabar, se o modelo aplicado hoje aos repórteres for mantido.As imagens gravadas em disco - não mais em fita - serão descarregadas diretamente num servidor. Assim, os repórteres poderão assistí-las diretamente nos terminais de computador. Esse novo sistema também permitirá que a turma do aquário veja as imagens brutas, não editadas, assim que chegarem à redação. O que permitirá o microgerenciamento também das imagens.
Há outro modelo de gestão possível. Se aos repórteres for dada maior responsabilidade pelo conteúdo das matérias, teremos maior diversidade, garantia de pluralidade, uma produção heterogênea e um telejornal mais humano, porque narrado com a convicção daqueles que, em carne e osso, estiveram em contato com a notícia. Esse modelo descentralizado, no entanto, dificulta o uso do Jornalismo para a pregação ideológica.
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