terça-feira, 25 de setembro de 2007

os mortos falam

O senador Antonio Carlos Magalhães é o novo anjo da remissão brasileira ou o eterno lobo mau da ditadura disfarçado de cordeirinho imolado no altar da corrupção pátria? Mesmo a contragosto, a pergunta vai se infiltrando nas páginas da grande imprensa brasileira, sejam as eletrônicas ou de papel propriamente dito. O senador, que num momento da história brasileira foi a personificação da perversidade e do oportunismo político e em outro tornou-se uma espécie de padroeiro profano das boas intenções tucanas, virou uma nova criatura. O problema, para jornalistas com um pé na roda viva da política e outro no Palácio do Planalto, é enquadrá-la.
Antonio Carlos é uma nova esfinge – sabe-se lá o que poderá representar? Um oráculo maldito – o que vai dizer, que revelações fará? Um bruxo vingativo a quem é necessário queimar em praça pública? Ou tudo isso ao mesmo tempo? Ninguém sabe bem qual definição deve ser colada no político baiano.
Neste cipoal de dúvidas, onde estão os cacos das novas certezas? Para que lado olhar? Olhemos para trás. Durante anos, ele foi o Toninho Malvadeza, parasita dos governos militares que sugava poder alheio na mesma proporção em que reprimia os adversários desse mesmo poder emprestado. A história virou, a ditadura fez água e ele metamorfoseou-se nesta simpática sigla que freqüenta a boca de nove entre dez jornalistas brasileiros – ACM. Vai uma longa distância entre os dois epítetos. Malvadeza, a própria palavra indica, dispensa explicações. O painho ACM é o reverso da moeda – o Toninho Ternura. E agora surge o Antonio Carlos "terceira via": essa criatura a quem a imprensa ainda não conseguiu rotular com seu reducionismo que explica tanto quanto desinforma.

(...)

A mídia tem um mandamento sagrado: primeiro, construimos mitos; depois, demolimos essas estátuas vivas. É assim não só na política. Ronaldinho é apenas um que está aí para demonstrar. Os eventuais candidatos a mito contribuem, é verdade, deslumbrando-se com o cartaz, e contratando "personal-marqueteiros" para tentar esticar ao máximo o prazo da fama, no que freqüentemente cometem excessos e gafes. A platéia também, oferecendo seu nível educacional subterrâneo como ingrediente do processo. E todos – eles, os donos da indústria editorial e seus subprodutos, seja de papel ou eletrônica – lucram e ficam felizes. No princípio, nos assustávamos com o fato de a informação estar virando mercadoria. Agora, trata-se muito mais do que isso: o consumo de imagens fabricadas é quase um estilo de vida. A incultura infiltrou-se na política, era inevitável. O mau estar provocado pelo novo ACM tem tudo a ver com isso. Faltam bóias no mar em fúria do bombardeio informativo liquefeito dos dias atuais. Faltam referências sólidas, falta tradição, senso histórico, noções sobre a realidade brasileira. Sobram siglas e sentenças de impacto em textos lidos e escritos. Se é para reduzir e impactar, vá lá: ACM, mon amour, vem nos salvar.

O texto acima está morto, mas ainda agoniza. Foi publicado originalmente no finado site "Epistolar", formatado com a colaboração do amigo Sandro Fortunato. O que está dito acima data de 5 de março de 2001.

Para ler o texto na íntegra, vá até
http://www.tafalado.com.br/epistolar/

2 comentários:

Moacy Cirne disse...

O texto é ótimo e atual. Gostei da nova 'cara' do seu blogue. Parabéns. TEM ALGUMA VIAGEM PROGRAMADA PARA NATAL, nos próximos dias? Um abraço.

Sebastião Vicente disse...

Ê, rapaz, que pena: dessa vez não coincidiu não. Viagem a Natal agora só no ano que vem.