terça-feira, 18 de setembro de 2007

Enquanto espero

Logo vai cair a primeira chuva, levantando aquela poeirinha silenciosa que gruda nos pulmões e gripa a cidade. O verde que hoje cora de vergonha vai perder o pudor de trepar nos concretos. Haverá uma carga novinha de água morando nas avenidas de ventos que nos compõem o ar. As pequenas gargantas dos infantes planaltinos terão enfim o sossego de não tossir suas noites. O salsep vai dormir por alguns meses na cruz-averemelhada farmácia caseira. A professora de educação física vai poder sair ao sol com seus alunos. O cinéfilo terá de volta a umidade dos olhos e poderá gastá-la nas sessões baratas do cine Brasília. O horizonte estará livre de cada floco algodoado da bruma seca que o envolveu e o calou. O lago Paranoá perderá aquela aparência de espelho cortante. A lagoa do Sapo se sentirá menos responsável pela resistência coletiva dos viventes da Asa Norte. O Parque da Cidade será de novo um tapete para piqueniques imaginários. Os restaurantes rurais darão sombras de sobremesa. O céu de vez em quando vai perder o domínio do azul que o faz célebre, mas a cidade compreenderá a necessidade desse repouso.

E todos vão correr para as janelas das casas, escritórios, redações e gabinetes para ver as primeiras gotas caírem. Menos os que já vivem nas ruas. Esses, por sinal, nem vão se molhar, pois que já fazem parte da matéria da chuva.

4 comentários:

cego aderaldo disse...

sopão de chuva, da melhor qualidade.

Anônimo disse...

ò eu aqui também...
parabéns pelo novo sopão, tá muito bonito. ah, e parabéns pra marcya também.

Roberta AR disse...

feliz template novo.
pela asa sul já se começa a ouvir o canto das cigarras, que diz que a chuva não deve demorar. hoje completa 113 dias secos em brasília.

Anônimo disse...

´Tião,
Uma mudança bem-vinda. Embora eu não goste de fazer alterações no meu blogue, gosto de vê-las nos outros. E gostei também da advertência bem humorada. O texto também está bom. O que se pode querer mais? Um abraço.