Uma exposição em cartaz no Centro Cultural do Banco do Brasil em Brasília apresenta aos leitores uma reprodução do apartamento onde morava o escritor Fernando Sabino. Há outros elementos relacionados à vida e à escrita de Sabino na exposição, mas a sala, as estantes e a bateria que ele utilizava concentram a maior parte da atenção do visitante que leu O Encontro Marcado ou O Menino no Espelho (justamente os dois únicos livros dele que lembro de ter lido). E o que mais chama a atenção neste apartamento reconstruído em fotos, móveis, objetos e espelhos meio cenográficos é a dimensão de cada coisa.
Ao entrar e circular por esse espaço da exposição, fui tomado por uma sensação meio liliputiana. Tudo me parecia extremamente pequeno, como se uma escala de mapa mundi tivesse sido adotada no momento em que os curadores resolveram preparar a exposição. O conjunto de sofás parece acanhado demais para a dimensão literária do cronista Sabino. Os livros espalhados pelas estantes me pareceram todos miniedições, pequenos mimos editoriais de capas marrons, livrinhos mágicos por diminutos em relação ao formato dos volumes que compramos, lemos, abrimos e fechamos nas estantes e livrarias de hoje em dia. Mas o que me surgiu ainda menor foi a já célebre bateria que o romancista Sabino usava para se transformar no músico de jazz Fernando. Parecia mais um brinquedo, uma bateriazinha dessas que os pais dão para as crianças e que invariavelmente se tornam o presente mais odiado pelas mães.
Nesta altura do processo de miniaturização, ocorreram-se idéias vindas sabe-se lá de onde, mas na certa preocupadas em reinstalar a harmonia entre a visão suscinta daquele lugar onde viveu o autor e as dimensões com que acostumei-me a encará-lo. Vai ver, pensei, é tudo pequeno para confirmar a vocação do infantil, para consagrar o universo do Menino no Espelho com que Fernando Sabino nos embalou. O menino de um mundo diminuto, formado por quintais habitados por insetos e galinhas, entre represas feitas de areia, barro molhado e restos de água da chuva da noite anterior. O mesmo menino que cria minimundos na imensidão da casa paterna nas páginas iniciais do mais que adulto O Encontro Marcado.
Vai ver, foi isso. Ou vai ver tudo isso é efeito do tempo, que reduz tudo, minimiza cada evento, enxuga cada dor, desidrata cada alegria e deixa só essa essência das coisas, essa pasta invisível que é pequena e ao mesmo tempo imensa. Vai ver.
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