quinta-feira, 20 de setembro de 2007

jornal velho

"Geralda é carroceira. Vive há mais de 20 anos no cerrado, ela, o marido e o filho. Casa de madeirite velha, cama que ela mesma construiu, carroça montada com a força dos seus braços franzinos, cavalos domados com a bravura de seu viver. Geralda não tem um dente que preste. As unhas das mãos e dos pés são cascas tortuosas fincadas na pele. Os cabelos vivem presos por conta do excesso de poeira e da falta de xampu e água (água é das coisas mais preciosas na vida de Geralda e sua família). Geralda precisa de um agrado para viver, para lhe lembrar de que é mulher, gente, pessoa. Então, coleciona perfumes encontrados no lixo. Tem uns 10 vidrinhos, alguns de boa qualidade, largados pela metada pela antiga dona (ou antigo dono, não se sabe). Ficam ao lado da cama, pra Geralda dormir em sonho perfumada." - CONCEIÇÃO FREITAS, "Perfumes de Viver", Crônica da Cidade, Correio Braziliense, último domingo.

"O roteiro me ajuda a buscar o significado da cena. Mas, na hora em que encontro o significado, vira uma carta de intenção que você oferece à equipe para todo mundo falar a mesma língua. Porque senão fica muita abstração e não consigo trabalhar com esse nível de abstração: de filmar no papel e impor uma verdade ao set. Faço filme com a equipe, com o elenco." - BETO BRANT, cineasta, no Correio Brasiliense de domingo passado (16/07), em entrevista de divulgação de seu novo filme, "Cão sem dono".

"Sempre podemos fazer algo com nosso passado, olhamos as nossas fotos no álbum, lemos nossas velhas cartas, anotações, postais, os discos velhos, as roupas antigas, a caderneta escolar, as redações... ao correr do tempo, vamos aprendendo como o passado é precioso, cada vez mais, a cada dia ele nos constrói. A moça vive com suas lembranças, cultiva-as como flores de remédio, quer senti-las reais e imateriais." - ANA MIRANDA, "A flor da vida: roteiro de um filme imaginário", Correio Braziliense de domingo.

"Sei que serei bastante exposta à música brasileira quando for a São Paulo. Nunca estive lá. Fui ao Rio e a Brasília. As pessoas me diziam: 'Não vá a Brasília, é entediante'. Não achei, de maneira nenhuma. Adorei a arquitetura e tudo aquilo, achei maravilhoso." - YOKO ONO, entrevista à Folha de S. Paulo, também no domingo passado.

"Retóricos, os almofadinhas não admitiam que o povo se atirasse ao frevo, enquanto no front de guerra nossos irmãos se batem denodadamente pela causa das Nações Unidas. Onde já se viu tamanha baboseira, camaradas? Uma tarde, 9 de janeiro, Mário Mello entra no Café Lafayette, esquina da Rua do Imperador com a Primeiro de Março, centro de todas as atenções políticas, econômicas e sociais do Recife. Braços para o alto, cabelos desgrenhados. À mão, como quem carrega um porrete, levava um exemplar com Crônica da Cidade. Grtia em corpo oito, itálico, três: Deixou de haver algum banquete ou recepção festiva às altas personalidades por motivo de guerra?"- RONILDO MAIA LEITE, o cronista, em "Bom-dia, Recife", Diário de Pernambuco, data imprecisa.

"Seus problemas com a sintaxe e a gramática o contrapõem às gerações de doutores que construíram a sociedade mais desigual do mundo sem cometer um erro de concordância."- VERISSIMO, "Pantomimas", O Globo, data imprecisa.

"Em que momento terá sido feita a travessia em que 'enlatados' se transformaram em séries - idealização de consumo? (...) Coloco uma pergunta: será que as séries interessam mesmo tanto assim ou elas interessam porque todo mundo acredita que, realmente, interessam?" - WILSON CUNHA, jornalista, crítico de cinema, em "A beleza americana", O GLOBO, data imprecisa.

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