terça-feira, 1 de junho de 2010

Edmar / Lampião


Pode ser um blefe, mas também pode não ser. O fato é que a afirmação de que Lampião, o histórico cangaceiro, não morreu naquela saraivada de balas disparadas contra ele e seu bando em Angicos (SE) em 1938, mas faleceu velhinho e incógnito em Buritis (MG) aos 96 anos, dá o que pensar. Se essa hipótese acabar confirmada, toda a mitologia em torno de Virgolino Ferreira terá de ser reescrita e revisada. Vai dar um trabalho danado para o pessoal que milita na área da história e da sociologia. E ainda vai causar aquele estrago na idéia pura do mito em si – que, como alguém mortinho e enterrado há décadas ou séculos, é, vamos admitir, muito cômodo para quem a ele recorrer.

O mito não fala (ao menos não com um mortal), não oferece ameaça (ao menos não como um assaltante que aguarda na esquina) e ainda por cima pode ser moldado à vontade por aqueles que citam sua pessoa. Dessa perspectiva, o mito é inofensivo, ajustável, mudo, paralítico e frequentemente ainda dá dinheiro, se bem utilizado para este fim. Por tudo isso, o pior que pode acontecer com um mito é a sua negação. E parece ser este o caso do renascimento – ou das duas mortes – de Lampião

Mas toda essa história de mito desfeito ou posto em dúvida é só para fazer um paralelo entre Lampião e um parente seu do mundo da criminalidade nordestina que viveu entre nós, potiguares: Edmar Leitão. Quem lembra do pistoleiro que, dizia-se, escrevia seu nome a bala nos oitões de Caicó? Aquele que, contaram um dia os jornais em branco e preto, apareceu morto com uma bala na cabeça e um bilhete ao lado dizendo "Eu fui Edmar Leitão"? Realidade, medo, fascínio e ficção se juntam e se misturam na lembrança que Edmar Leitão provoca em quem, sobretudo na infância, ouviu falar seu nome. A pergunta é: e se ele, como o Lampião de Zé Geraldo, também não tiver morrido naquelas circunstâncias? E se tiver, como se cogitou na época, assassinado um sósia para sumir no mundo e não ser mais alvo das caçadas policiais?

Maldita mitologia, que faz troça das certezas que construimos em torno de fatos e pessoas que nos causaram medo, fascínio, terror ou júbilo. Nem a essa forma de estabilidade temos direito. E o herói de hoje, tanto quanto o bandido de ontem, pode ser o canalha ou o salvador de depois de amanhã.

Um comentário:

Alex de Souza disse...

Interessante, Tião: existe esse mesmo mito sobre Billy The Kid.