O que seria do cinema de aventura sem a abnegação e a teimosia dos velhos comandantes dos navios? No fim de semana, à guisa de filmes de profundidades submarinas, saquei da estante de DVDs dois flutuantes representantes da esquadra do entretenimento para combinar com os pés d'água que lavam os jardins brasilienses sem dó, sem sol e sem piedade. "O Grande Motim", comprado a preço de banana num feirão de supermercado da Estrada de Ponta Negra, é a versão divirta-se da histórica rebelião a bordo de embarcação inglesa nas brumas do século XVIII, com um enfezado Clarke Gable mandando para aquele lugar um empedernido Charles Laughton.
No andamento das seqüências, na costura do roteiro, na amplitude da paisagem mas também nos comentários da fotografia, nota-se claramente que se trata de um híbrido - meio diversão sem compromisso, meio documento histórico. Destaca-se, contudo, a visão dos rostos - essa qualidade que o cinema dificilmente consegue nos negar: há closes espalhados ao longo do filme, geralmente closes de personagens pra lá de secundários, quase figurantes, que comentam a tragédia em curso melhor do que muita seqüência "de ação", como se diz. São respiros neorealistas antes do neorealismo sequer pensar em existir, que o filme é de 1935 - e o espírito é de Sessão da Tarde.
O cartaz da segunda sessão foi o bem mais recente "Mar em fúria" que, além do tema marítimo, guarda em comum com "O Grande Motim" o fato de também reconstruir um "fato verídico", como se diz. A semelhança prossegue: fato verídico reconstituído num tom que precisa fazer de uma tragédia notória uma matriz de entretenimento - no que, diga-se, sai-se muito bem. Resultado favorecido pelo fato de se tratar de um registro muito mais real, por força da tecnologia dos efeitos especiais. Nos seus momentos mais marcantes, "Mar em fúria" é um filme quase tátil, de maneira que, quando tudo vai por água abaixo - e todo mundo sabe que no caso desse filme isso não é força de expressão - o espectador praticamente se afoga junto. As montanhas revoltas formadas pelas águas marinhas em tempestade têm o poder tecnológico de envolver o público do filme, a esta altura já devidamente encharcado pelos dramas humanos apresentados na primeira parte da história.
Em ambos, temos a figura - meio óbvia? - do comandante de navio inflexível a um ponto quase sobrenatural. George Clooney ou Charles Laughton, não adianta: o autoritarismo mora no mar e vive de caçar Moby Dicks por aí, para a nossa desgraça ou para a nossa diversão.
No andamento das seqüências, na costura do roteiro, na amplitude da paisagem mas também nos comentários da fotografia, nota-se claramente que se trata de um híbrido - meio diversão sem compromisso, meio documento histórico. Destaca-se, contudo, a visão dos rostos - essa qualidade que o cinema dificilmente consegue nos negar: há closes espalhados ao longo do filme, geralmente closes de personagens pra lá de secundários, quase figurantes, que comentam a tragédia em curso melhor do que muita seqüência "de ação", como se diz. São respiros neorealistas antes do neorealismo sequer pensar em existir, que o filme é de 1935 - e o espírito é de Sessão da Tarde.
O cartaz da segunda sessão foi o bem mais recente "Mar em fúria" que, além do tema marítimo, guarda em comum com "O Grande Motim" o fato de também reconstruir um "fato verídico", como se diz. A semelhança prossegue: fato verídico reconstituído num tom que precisa fazer de uma tragédia notória uma matriz de entretenimento - no que, diga-se, sai-se muito bem. Resultado favorecido pelo fato de se tratar de um registro muito mais real, por força da tecnologia dos efeitos especiais. Nos seus momentos mais marcantes, "Mar em fúria" é um filme quase tátil, de maneira que, quando tudo vai por água abaixo - e todo mundo sabe que no caso desse filme isso não é força de expressão - o espectador praticamente se afoga junto. As montanhas revoltas formadas pelas águas marinhas em tempestade têm o poder tecnológico de envolver o público do filme, a esta altura já devidamente encharcado pelos dramas humanos apresentados na primeira parte da história.
Em ambos, temos a figura - meio óbvia? - do comandante de navio inflexível a um ponto quase sobrenatural. George Clooney ou Charles Laughton, não adianta: o autoritarismo mora no mar e vive de caçar Moby Dicks por aí, para a nossa desgraça ou para a nossa diversão.
Um comentário:
vi, no cinema, a refilmagem da refilmagem, com mel gibson no papel do rebelde e anthony hopkins como o comandante. depois, assisti na tv acho que a primeira refilmagem do grande motim: marlon brando fazia o rebelde (parece que foi nas filmagens que ele conheceu a mulher taitiana dele, e gostou tanto do lugar que terminou comprando uma ilha por lá), e não lembro quem era o comandante. agora, lendo aqui, fiquei com vontade de assistir ao primeiro dos filmes...
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