quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Da Mata


Voz de pano, acústica de pólen oferecido, notas de mel açucarado no fundo da garrafa, delícia pegajosa que gruda dedos e lábios. E quando ela canta ai,ai,ai,ai,ai,ai é que germinam e floram lavouras de verdura sonora lá bem dentro dos ouvidos de quem a escuta. Pastoso, o sibilar pop-agreste de Vanessa da Mata implanta, caprichoso, estofados novos nos tímpanos de seu ouvinte. Revestimentos auditivos forrados com panos rubro-acetinados dotados de caldas internas como a dos mais finos chicletes jamais fabricados. Tomar um banho de chuva, um banho de chuva, um banho de chuva. Quando mais ela repete tais frasinhas voadoras como asas de borboletas verbo-musicais, mais matreiramente vai construindo mantras marotos e altamente viciantes no mundo auditivo de quem lhe frequenta os compact discs. E tome estética de boneca de pano embebida em sonoridades techno-humanizadas. Moça de joãozinho no cabelo, faz de conta no espelho, faz de conta no espelho. Pingos metalizados estalam no tabuleiro sonoro ditando o ritmo vanessiano de refrões e refrinhos. Quando o incauto percebe, é demasiado tarde – já então se está refém das melodias de brincadeira de roda salpicadas de malícia para maiores. Droga bendita, nada há mais a fazer que não seja se entregar ao neopsicolelismo sonoro da gata. Bonequinha de chita. Audrey Hapburn acaboclada. Breakfast na quitanda da esquina. Falsa música de mulherzinha para triturar e deglutir coraçõeszões masculinos. Ela é neguinha e comeu seu coraçãozinho de galinha no chin-chin. Vanessa, enfim, é, definitivamente, da mata, seja em Paraty, Palmas ou no Piauí.

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