terça-feira, 2 de junho de 2009

Música no ar (2)


Rejane tem algo em comum com Luiz Fernando Veríssimo: os dois cultivam a mania de "descobrir" novas cantoras brasileiras - o que, você há de concordar comigo, é uma tarefa e tanto, dado à frequencia e quantidade com que essas novas cantoras brotam de tudo quanto é canto do país. Então um dia é Celmar, no outro é Eliana Printes, e por aí vai. Só pescando pérolas, catando um disquinho aqui e outro ali até outra novidade surgir - Jussara Silveira, Céu, Adriana Maciel, todas essas que a essa altura já ficaram, digamos, velhas, e estão podem ser substituídas por outras que ainda vamos ouvir.

Pois bem: uma das descobertas de Rejane nessa tarefa de mineração musical atendia pelo nome de Juliana Aquino (agora só escrevem "de" Aquino, mas me acostumei com o nome sem preposição). Ela mesma - a cantora "brasiliense" que também estava no avião espatifado sobre o Atlântico. Quando vi a foto de Juliana Aquino no jornal Hoje, uma foto meio borrada, como cópia lavada e mal feita da mesma imagem que ilustra a capa do CD que um dia Rejane trouxe lá pra casa bateu uma tristeza em tom maior.

Não só pela morte brusca, violenta - estúpida como a morte tantas vezes tem o cuidado de ser. Não por isso, embora também. Mais pela imagem, certamente a única que os jornalistas encontraram na pressa da primeira notícia, na ansiedade de estampar o rosto - um rosto - dessa tragédia sem imagens. A mais rarefeita das catástrofes surgiu na tela com a cara turva da mesma mulher que aparece na capinha do CD com retoques caprichados de quem precisa se tornar conhecida para melhor se garantir com o ofício incerto - o de cantar.

Juliana Aquino estava morando na Alemanha, disse o telejornal. A gente não sabia disso - mas também nunca mais havia ouvido falar dela. Na verdade, nunca mais havia ouvido o CD da cantora. Dele, do disco, lembro mais da primeira faixa, que vem a ser também a faixa-título, "A Primeira Vez". Um canto ritmado, uma musicalidade entre pop e negra - alguma coisa, para citar um similar, meio com a cara da potiguar Khristal. É claro que, assim que as atribulações permitirem e a lembrança da tragédia ficar um pouco mais branda, a gente lá em casa vai parar um pouco, talvez numa manhã de sábado, e abrir bem as janelas, deixar entrar o sol de junho e encher o céu azul do nosso pedacinho de Brasília com a voz de Juliana Aquino.

Um comentário:

Rosália Maria disse...

Tião, também conheci o trabalho de Juliana Aquino, uma vez que o CD foi produzido pelo meu amigo e conterrâneo Heraldo Palmeira. Inclusive a primeira faixa, que você fala, é composição dele, dentre outras. Quando vi o nome dela na lista de passageiros, tomei um susto, liguei para Heraldo e ele confirmou, era ela mesma.