quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Contículus de Brasília

Quem vê a imagem do Congresso Nacional todo niemaier e imponente no Jornal Nacional ou estampando mais uma página de reportagens escandalosas da Veja nem imagina, mas por baixo daquelas duas torres em forma de agá e sob aqueles pratos que dão suavidade ao conjunto está um dos principais problemas urbanos deste Brasil de todo canto. Estou falando da disputa por uma vaga para estacionar o carro. Especialmente às terças, quartas e quintas-feiras, qualquer espaço físico disponível para estacionamento - quero dizer, qualquer mimímetro de meio-fio - fica tomado por um mar de carros. Uma visão do alto, como que tomada por um satélite que passasse bem acima do Palácio do Congresso Nacional, daria um susto no brasileiro que só vê rapidamente, nos telejornais da noite, esse que é um dos conjuntos de prédios mais conhecidos do país: seriam duas torres, dois pratos e um mar de carros enfileirados como um contorno metálico delineando as vias.

Entre as vagas mais disputadas, estão aquelas que ficam no meio-fio da chamada "rampa", que é aquele declive mais próximo a uma das mais utilizadas entradas do Congresso. O número de carros que cabe lá é bem menor, daí o espaço ser mais disputado. E quem consegue um cantinho na rampa, seja porque um outro cidadão motorizado acabou de sair deixando uma vaga livre, seja porque tem vaga privativa, ainda leva outra vantagem (olha o Gersão aí se infiltrando no texto): só precisar dar poucos passos para chegar à entrada do Congresso, pela Chapelaria, que é aquele acesso mais utilizado de que falei há pouco (quem conhece os corredores da Câmara e do Senado sabe que são quilômetros de túneis, escadas, verdadeiras catacumbas disfarçadas de subsolos inteligentes que tiram o sangue das pernas das mais lindas repórteres que os telejornais já empregaram).

Explicadas as circunstâncias e o cenário, vamos ao contículo propriamente dito: uma colega da TV Câmara, por ocupar atualmente um cargo de chefia, ganhou uma daquelas invejadas vagas privativas - onde? - no espaço nobre que é a rampa do Congresso. Mas o que pode parecer privilégio, ela reclama, vem se tornando é um aborrecimento quase diário. É que sempre tem alguém ocupando a vaga, enquanto espera coisa melhor nos demais espaços (in)disponíveis. Um dia desses, deu-se o caso, que representa um ataque de cidadania como jamais se viu.

A colega chegou para estacionar e havia um taxista folgado na vaga. Ele, educadamente - se vocês querem um parâmetro de pessoa educada, pense nessa minha colega que atualmente é também nossa chefe - solicitou:

-O senhor poderia sair? É que esta vaga é privativa, tenho aqui a comprovação (e mostrou o documento que atesta a reserva do lugar).

-O quê? - reagiu o taxista, dando uma de desentendido.

-A vaga é privativa, é minha, e preciso dela.

-Privativa? Só se for privativa do povo brasileiro!

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